quarta-feira, 11 de março de 2009

FILHOS

Não, isso não é nenhum discurso inflamado sobre comportamento dos filhos. E antes que você desista de ler até o fim, dê um voto de confiança e procure prestar atenção ao verdadeiro sentido que faz jus ao título.

Hoje estava atenta às notícias do Jornal na TV, quando noticiaram que dois bebês foram abandonados em caixas de papelão. Dãã.. novidade! Antes que malhem meu comentário e pressuponham o que vem a seguir, reflitam sobre o próprio pensamento acerca desse tema, porque eu mesma me policiei em relação a isso. É revoltante o abandono de incapaz, passível de punição prevista em Lei, mas pior do que isso é a nossa postura em aceitar o fato como algo corriqueiro. Alto lá! Filho não é brinquedo ou um chinelo velho que quando não queremos mais, jogamos fora. É um ser humano indefeso, que é consequência de nossos atos. Muitos desses atos praticados de modo irresponsável. O fato é que devemos arcar com o peso da responsabilidade de nossas atitudes.

Meu nascimento não estava programado. Aliás, o planejado eram dois filhos, mas eu, a terceira, vim de intrusa. Na época, meus pais cogitaram aborto. Não pensavam na crueldade do ato, mas tão somente na má situação financeira que atravessavam e no medo de não poder sustentar três filhos. Resumo de história: "quem cria dois, cria três". O sonho de ambos era uma menina, pois já tinham dois meninos. Correspondi suas expectativas. Na mesma época, meu pai foi aprovado em concurso público e logo foi promovido no trabalho. As coisas começaram a se tornar favoráveis a eles, que atribuem a Deus as dádivas recebidas, pelo fato de assumirem sua responsabilidade como pais.

Jamais julguei a atitude deles, nem tampouco usei a história para fazer chantagem emocional. Antes, busquei compreendê-los. E agradecê-los pela oportunidade. Sou fruto do amor e isso já me favorece um monte. Muitas pessoas colocam filhos no mundo simplesmente por tesão, sem medir as consequências. Ou abortam, sem dó nem piedade. E há aqueles que abandonam em caixas de papelão. Em contrapartida, existem aqueles que pensam demais e demoram para ter filhos, muitas vezes sem se dar por conta de que o relógio biológico começa a acusar que o prazo de validade está vencendo. Ficam preocupados em ter estabilidade financeira e emocional e protelam o sonho de ter filhos. Outros, simplesmente por alguma razão biológica não podem gerar filhos "in natura" e recorrem a métodos alternativos de concepção e, ainda,há aqueles que adotam. Eu me encaixo na primeira opção. Aos 32 anos, ainda não sou mãe, mas tenho um desejo muito louco de sê-lo. Sonho com o dia em que poderei dar à luz a uma criaturinha que será parte de mim, que vai se desenvolver no aconchego do meu útero e que, quando nascer, encontrará carinho, amor e proteção nos meus braços. Penso naquilo que poderei oferecer a uma criança, não apenas materialmente, mas que contribua para sua formação como pessoa e cidadã. Penso nos casais que adotam filhos rejeitados por pais biológicos e naqueles que fazem de tudo para conceber. Bendigo o amor incondicional que existe dentro do ser humano e que é capaz de se tornar maior do que por si mesmo! Quero fazer parte desse time, de uma maneira ou outra.

E repudio a atitude dos pais que abandonam seus filhos. E isso não significa apenas o crime de aborto ou de jogá-los, após o nascimento, dentro de uma caixa de papelão e deixá-lo a própria sorte. Até porque um bebê não é capaz de se defender sozinho. Mas abomino terminantemente a atitude de abandono de filhos por pais displicentes. Pais que priorizam suas necessidades às necessidades de seus filhos. Pais que fecham os olhos às atitudes erradas dos filhos e que se abstêm de impor-se como autoridade diante dos filhos. Minha experiência como professora não me permite atuar como mãe, embora hoje nos seja transferida também essa função. Toda criança precisa da orientação dos pais, até para discernir o que é certo do que é errado, caso contrário, a vida ensinará da pior maneira possível. A criança de hoje é o adulto de amanhã. Tudo depende do contexto em que estiver inserido. Como diria Vinícius de Moraes, em seu Poema Enjoadinho: "Filhos... Filhos? Melhor não tê-los!Mas se não os temos,como sabê-los?"