quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Era uma vez...

Era uma vez um homem. E uma mulher. Entre eles: o destino.
Como qualquer conto de fadas, a expectativa é que se termine em "foram felizes para sempre". Já, conforme a realidade apresentada por Vinicius de Moraes em seu Soneto de Fidelidade, "Que não seja imortal, posto que é chama,Mas que seja infinito enquanto dure." O amor pode até ser um sentimento grandioso, mas não se sustenta se não for renovado todos os dias. É preciso bem mais do que imaginação ou poesia para sobreviver ao tempo e às dificuldades que se apresentam no caminho. Sim, o destino que aproxima, muitas vezes também afasta, tornando-se implacável. Como o Tempo. Serão eles os verdadeiros culpados quando o sentimento se extingue?
Era uma vez um homem. E uma mulher. Entre eles: o tempo.
Dizem que o tempo cura tudo e é responsável por cicatrizar as feridas. O amor também traz dores, que o diga Nazareth, em sua canção "Love Hurts" (O amor machuca). Só o tempo pode operar mudanças significativas, mas elas devem partir de dentro para fora, caso contrário, serão efêmeras e, nos bailes da vida, um dia as máscaras podem cair... Mudamos por amor? A quem? Ao próximo ou a si mesmo?!
Era uma vez um homem. E uma mulher. Entre eles: o amor.
Quem faz o seu próprio destino e se flexibiliza com o tempo, certamente é brindado com o sentimento mais sublime de que Deus, em sua infinita bondade, pôde dotar a humanidade: o AMOR. Quando conhecemos a dádiva do amor, tudo e nada fazem sentido para nós... nossos ouvidos até podem captar a música no ar (que música?), e ver através das aparências, aquilo que é invisível aos olhos... Quer um "foram felizes para sempre"? Faça valer a pena... Acredite, sonhe e ame... Muito!
Era uma vez um homem. E uma mulher: Entre eles: já não existe mais nada que possa separá-los, pois já superaram o medo do destino, a preocupação com o tempo e sobreviveram às tempestades do amor. Superaram e cresceram. E o que Deus uniu, ninguém mais separa. Foram felizes? Até hoje são...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Palavra Acesa - Quarteto Violado

Devaneios e ensaios filosofais

A vã filosofia
A veia bailarina
Aveia, grão nutritivo
O veio político
O véio do povo...
Brincar com palavras,
Criar neologismos,
Desmistificar os sentidos,
Ampliar seus significados
Preencher nossas mentes
Derramar informações

Pulsar como a veia, cujo sangue que corre, indica que há vida
Alimentar-se de grãos, como a aveia, que acelera o metabolismo
E se reflete em nossa saúde, interna e externamente,
O veio político, que faz com que se desperte para a realidade,
Articular, criar estratégias, com a sede de vencer
Fazer justiça
Olhar para os menos favorecidos
O “velho” que se convencionou ‘véio’ na boca do povo
A cultura curta da comunidade,
Com sentido coloquial, porém não menos importante que a linguagem culta
Que fala, fala, fala e não diz nada
E no nada, se diz tudo!
Vazio...
Perdido em algum lugar recôndito da alma...
Jaz perdido em algum lugar da mente...
Devaneios
Dizer tudo e nada ao mesmo tempo
Sensibilidade de quem escreve, inala, absorve e se alimenta de palavras!
Que não seja em vão
A vã filosofia
De nossos devaneios
Filosofais e existencias...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

The Verve - Bittersweet Simphony



A Ambigüidade da Vida

Adoro refletir e filosofar sobre o quanto todas as coisas da vida são dúbias: A começar pelo amor e o ódio que, embora sejam sentimentos opostos, na verdade são extremos um do outro: são linhas paralelas, pois o ódio nada mais é do que o amor ferido e, se ele sentimento negativo se manifesta, é porque na verdade nos importamos e muito com a outra parte por quem possamos nutrir um sentimento tão nefasto. Tudo na vida é dúbio, como está melodia suave, intitulada "Bittersweet Simphony", traduzindo: "Doce-amarga Sinfonia". É como dizer que a vingança, segundo o dito popular, é um prato que se come frio. Satisfaz um sentimento negativo momentaneamente (ilusão), mas não dá para saborear com o mesmo apetite de um prato quente e preparado com esmero. Basta refletirmos sobre os sentidos antagônicos de tudo: "Depois da tempestade, sempre vem a bonança".
Certa vez, em uma loja, encontrei uma pessoa que dizia: "Existem pessoas que nasceram para mandar e outras que nasceram para obedecer; eu, nasci para obedecer". Na época, fiquei perplexa com o comentário! Lembro-me perfeitamente que tive que frear meus instintos ao ouvir essas palavras, pois acredito que o sol nasce para todos. Mais tarde, refleti sobre o sentido do que aquela mulher havia dito e pensei: "Ela tem razão". Realmente o Sol nasce para todos, mas não são todos os que apreciam expôr-se ao Sol. Esta é a razão pela qual vivemos em uma sociedade tão distinta: existem pessoas que fazem e outras que preferem se eximir. Alguns não se conformam e fazem valer a pena, se envolvem e mergulham de cabeça, e outros cruzam os braços e deixam rolar... uma espécie de "venha a nós e ao vosso reino, nada!" (Sábia filosofia paterna!)E confirmo essa teoria através de mais um dito popular: "O que seria do azul se todos gostassem do amarelo?" Seria o mesmo que dizer que se todos se deixassem seduzir pelo status da profissão na área de medicina, não mais existiriam profissionais de outras áreas, que embora não sejam tão bem remuneradas quanto essa, são tão imprescindíveis quanto!
Por isso, lembremo-nos de agradecer pela doce amarga sinfonia da vida: só sabemos valorizar a saúde diante de sua fragilidade , e só aprendemos a valorizar o que temos quando perdemos. Que não se espere pela perda, mas sim que aprendamos a valorizar o hoje, o momento que como o próprio nome já diz, é um "PRESENTE". E o futuro? Só a Deus pertence. Nossas impressões ficam no passado, reflexos do que fazemos ou deixamos de fazer no presente e que, com certeza, colheremos no futuro. Doce ou amargo... Cada um escolhe o que lhe convém.

Patrícia Rech de Oliveira

Editorial - Natal... Tempo de Lições e Reflexões

Editorial
Natal... Tempo de Lições e Reflexões
Enquanto estávamos encerrando a 2ª edição do Jornal People de dezembro, deparei-me com um pedido inusitado da Silvana : “- Patrícia, escreve esse editorial?” Surpreendida pela solicitação feita, não por se tratar de algo novo, pois já havia registrado opiniões neste espaço, mas curiosa pela oportunidade concedida, mais uma vez, ainda por cima nesta época do ano, em que direcionamos nossos olhares para nosso interior em razão do Natal e do Ano Novo protestei, por uma questão de consciência e ética, pois este é um espaço nobre, reservado a quem tem mais experiência... As pessoas aguardam todos os meses para ler sua opinião e, afinal, o lugar de honra deve ser da Diretora do Jornal! A resposta fez com que ficasse mais admirada ainda: “Não me faz maior nem melhor segurar meu espaço ou qualquer coisa só para mim.”
Entre a comoção e a alegria pelo voto de confiança e credibilidade em mim depositadas, resolvi aceitar o desafio e usar seu exemplo para escrever esse editorial, com a finalidade de refletirmos sobre seu gesto: ceder um pouco de seu espaço, ciente de que o potencial de uma pessoa não interfere no potencial de outra, pois Deus criou todos os seres humanos e dotou-os de diferentes habilidades. Sinais de profissionalismo, maturidade, respeito e consciência de quem realmente sabe quem é e não se sente ameaçada pelo talento dos outros. Um pensamento ecoou na minha cabeça: “Quem é bom já nasce feito!”
Sua atitude bem poderia se repetir em todas as esferas sociais, condizendo com a época em que estamos vivendo... Natal, tempo de refletir. Se fizermos uma retrospectiva de nossas próprias vidas e admitirmos nossas falhas, perdoarmos, crescermos como seres humanos, aprendendo a dividir e, assim, permitirmos que todos busquem seu lugar ao sol, sem denegrir ou difamar aqueles que se projetam às custas de muito trabalho, certamente seremos mais felizes e aprenderemos a grande lição que Deus, ao dar seu único filho para salvar a humanidade de todos os pecados, quis nos ensinar. Quem tem respeito por si próprio e dignidade, não se preocupa se o outro possa também se destacar. Caráter é uma dádiva que devemos sempre preservar em nossa formação. Isso é garantir-se em tudo o que faz, sem temores!
Bons exemplos existem para serem seguidos. Que com a data que se aproxima, possamos deixar de lado um pouco do consumismo e possamos nos auto-presentear e presentear àqueles que amamos com o que há de mais valioso na vida: solidariedade, respeito, dignidade, amor ao próximo, doação e compaixão. Tudo na vida passa, como a própria Silvana diz: “Ninguém é imortal.” Isso significa que glamour, dinheiro e outros prazeres mundanos são efêmeros, e o que importa são nossos atos generosos, verdadeiro legado que deixaremos após nossa partida eterna. Desejo que todos possam se auto-reavaliar e entender que flexibilidade não significa fragilidade de caráter, mas sim maturidade e respeito pelo próximo. Há sempre um tempo de mudarmos a forma como agimos e tornarmo-nos melhores do que hoje somos.
Feliz Natal e Próspero 2009 a todos!!
Um grande abraço,
Patrícia Rech de Oliveira

sábado, 20 de dezembro de 2008

Crônica - A Dimensão das Coisas

A Dimensão das Coisas

Não é incrível como encaramos a dimensão das coisas quando crianças?
Lembro-me perfeitamente da casa onde cresci e me criei, de como a via enorme,
De como meu pai era alto, de como era difícil o cálculo aritmético, de como
era complicado "raspar" o prato!
Pois é, na infância a tendência é pensarmos que problemas de verdade
são descobertas de um vaso quebrado, de uma nota baixa no boletim escolar ou
de comer doces escondidos antes do jantar... De não escovar os dentes quando
determinado por nossos pais (autoridades máximas em nosso lar!), de alguém
"bisbilhotar" nossos diários e revelar nossos segredos - quase sempre tolos -
próprios da idade! A briga com a melhor amiga que parece eterna,as brincadeiras
inconseqüentes que deixam cicatrizes, o delírio da febre que "amplia" todos os
nossos domínios!
Ah, saudade! O pátio de casa era o nosso reinado, o portão da entrada da
casa o nosso limite, o olhar severo do pai gelava o sangue, a palmada dolorida
da mãe para nos reconduzir à realidade do nosso pequeno universo infantil! De
repente, a fase pueril se vai,deixa seqüelas, deixa lembranças... e vem a
adolescência,com sua falsa onipotência, período ambíguo e duo,não sei quem sou!
(o que penso?) Os corredores de casa e os cômodos parecem diminuir de tamanho
gradualmente, e o pai já não é tão alto assim...começam os questionamentos, a
rebeldia como forma de protesto às limitações impostas por nossos pais, o namoro,
a vaidade, os "posadões" com as amigas, os bailinhos e as negociações com os
horários de retorno ao lar.. Problemas? Eu achava que na infância tinha o quê?
Problemas? Ledo engano!(Fala sério!) "Tipo assim": Minha mãe vai pirar quando
notar que tingi os cabelos! Meu pai vai me matar quando descobrir o namoro! Ai,ai!
Em cada etapa da vida, algumas coisas diminuem de tamanho e outras ampliam!
Irônico pensar que a cada fase superada, ao olhar para trás, vejamos o quanto nos
preocupávamos à toa, a dor de abandonar os brinquedos, de despedir-se do colo da
mãe e da vigilância paterna...Crescer dói, é uma tarefa árdua, desafiadora e
contínua, independente da anatomia humana atingir seu limite, seu ápice, e regular
a taxa de hormônios! Continuamos a crescer (se não para os lados, ao menos em
maturidade e evolução humana! Surgem novos desafios e a tão sonhada liberdade e o
desejo de revolucionar cedem espaço à realidade e seus obstáculos a serem
transpostos! Na mente ecoa: "Não há conquistas sem perdas". Quem é que aceita
perder??!!
Levamos para o resto de nossas vidas algumas lições e souvenirs da
infância:a vaga lembrança da dor do joelho ralado ao tentar equilibrar-se na
bicicleta, a ida ao dentista por comer doces escondidos, o cheiro do bolo de
chocolate da mãe, o riso gostoso do palhaço no circo!!Embora nossa visão real
nos permita perceber a real dimensão das coisas, podemos seguir em frente, um
tanto nostálgicos e saudosos por constatar que a dimensão das coisas não mais
se reduz na fase adulta, mas sim duplica de tamanho diante do entendimento real
do amor, dos gestos e das situações que nos fazem ver a verdadeira dimensão de
todas as coisas!!

(Autoria: Patrícia Rech de Oliveira)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

"Cidadanizando"

Segundo o dicionário Luft, o termo cidadão traz a seguinte acepção: 1.Indivíduo no gozo de seus direitos civis e políticos. 2. (fam.) Indivíduo; sujeito. Já o termo educar traz o seguinte significado: 1. Promover (no educando) o desenvolvimento harmônico de sua capacidade física, intelectual e moral. 2. Receber educação; instruir-se.
Dessa maneira, ouso fundir os dois termos que resultam em um neologismo, formando a palavra "cidadanizando" (cidadão + educando), para dizer que o cidadão é aquele que participa da gestão democrática, procurando fazer valer seus direitos e deveres outorgados pela Lei.
E agora a pergunta que não quer calar: "Como exercer, então, essa cidadania?" O primeiro passo é "primar por uma educação de qualidade que garanta as aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de atuar com competência,dignidade e responsabilidade na sociedade em que vivem e na qual esperam ver atendidas suas necessidades individuais, sociais,econômicas e políticas". Para que iss tudo aconteça, é preciso que nós, professores, possamos desenvolver nossa cidadania a fim de poder ensinar a mesma coisa aos nossos alunos, lembrando que o exemplo sempre vem "de cima".
Em 2004, O então Governo do Estado do RS, criou o Programa de Educação Fiscal, o qual pude acompanhar ativamente e que visava atender a essas necessidades, ou seja, buscava suscitar nas pessoas o desafio de compreender melhor o seu papel como cidadão, modificando, dessa forma e a partir da Capacitação de Profissionais da Área da Educação (Disseminadores), a concepção de Estado como algo isolado, uma vez que este é um ente que pertence à Sociedade; o Público e o Privado são partes um do outro, da mesma forma que ousei juntar os termos Cidadão e Educação. O povo, sem entender o ordenamento da máquina administrativa, desconhece a responsabilidade e contribuição da sociedade para o funcionamento desse mecanismo; por esse motivo, cabe dizer que a Educação Fiscal nas escolas, independente de Gestão Pública, é um processo educacional transversal que prioriza a conscientização e a formação do cidadão, levando aos seu conhecimento a função sócio-econômica dos tributos, onde e como esses recursos são aplicados e dando liberdade de participação da Comunidade, para que todos saibam que é através dos impostos pagos pela sociedade que haverá geração de recursos, dos quais o Governo fará a (re)distribuição necessária, revertendo esses valores em benefícios para a própria população. O papel da escola é de suma importância nesse processo, pois ela tem a função de disseminar essa idéia para que haja mais envolvimento por parte de todos; não se pode excluir a escola, entendendo-se que se refere apenas às questões orçamentárias, pois ela funciona como um elo entre o Governo e a Sociedade.
A importância do recolhimento das notas fiscais, além de combater a sonegação de impostos, permite que o cidadão tenha o privilégio de reivindicar seus direitos e, assim, colaborar para o fortalecimento da democracia, dando passos largos ao encontro de um objetivo-comum, que é a construção de uma sociedade mais fraterna, justa e igualitária para todos!

sábado, 13 de dezembro de 2008

Poema - O que é teu por direito

Acaso sabes o que é teu por direito?
Guarda contigo a secura de tuas lágrimas,
A maldade implícita de teus pensamentos,
A sordidez de teus comentários...A acidez de tuas palavras jocosas!
É teu direito sofrer e buscar soluções,
De renascer todo dia,
De aprender a cada amanhecer...
Perdoa-te e sejas perdoado,
Permita-se viver e deixar viver...
Tudo isso é teu por direito!
Concilia tua vontade com a benevolência
e sê melhor cada vez mais!
Crê em Deus, na vida, na fé e na humanidade
E adquira, toma posse de tudo aquilo
Que é teu por direito!
(Autoria: Patrícia Rech de Oliveira)

Elephant Gun - Tema da Minissérie "Capitu"


Maravilhosa Música! Elephant Gun - Beirut Tema da Minissérie "Capitu" - da Rede Globo (Adaptação do Clássico Literário "Dom Casmurro - Obra de Machado de Assis. Apreciem!
Belíssima!!
Já conhecia essa maravilhosa música do Grupo Beirute, mas tornei a ouvi-la e apreciá-la após a minissérie da Globo - Capitu - em homenagem ao Centenário da Morte de um dos Maiores Escritores do Brasil - Machado de Assis! Ele, que teve sua obra imortalizada e é objeto de estudo da Literatura Brasileira, mais especificamente do Período de Transição Literária entre o Romantismo e o Realismo. A Obra Dom Casmurro é discutida até hoje, por críticos literários, em razão da suposta traição de Capitu. E aí? Ela traiu Bentinho - Dom Casmurro - com seu melhor amigo, Escobar - ou não? Machado levou consigo ao túmulo a real interpretação, deixando um final aberto ao leitor, que intrigado busca ler e reler sua obra em busca de pistas que possam esclarecer essa dúvida atroz... Cada um interpreta o universo da leitura como bem entender!!

sábado, 6 de dezembro de 2008

O Papel do Educador


Quem não se lembra do premiadíssimo filme Central do Brasil de Walter Salles, que trazia no papel principal a talentosa e renomada atriz Fernanda Montenegro e o então menino de rua e, posteriormente ator, Vinícius de Oliveira, nos papéis, respectivamente, de Dora e Josué? Talvez já nem lembre da sinopse do filme, mas contava a história de uma “escrevedora” de cartas, professora primária aposentada, que em razão do baixo salário de aposentadoria e dificuldades financeiras, passou a escrever cartas para pessoas analfabetas. E olha que a clientela dela era grande, sem mencionar o fato de que ela recebia pelos serviços prestados e não remetia as cartas aos destinatários!
O plano de fundo do filme trazia uma belíssima mensagem. Por ironia do destino, uma das clientes de Dora sofre um acidente e deixa o filho, uma criança de aproximadamente 8 anos órfã. Perdido na cidade grande, o menino literalmente “gruda” na escrevente, que é a única pessoa com quem a mãe havia mantido um breve contato e a única em quem ele, por força das circunstâncias, sentiu que deveria se apegar. Mesmo contrariada, a mulher amarga e sofrida se vê no compromisso moral de atender o menino até que consiga localizar algum familiar que possa se responsabilizar por ele. O arrependimento começa a bater nesta mulher, que percebe que já não detém mais o poder sobre o destino das pessoas (mandar ou não as cartas). Ela passa a ser pouco a pouco transformada por este novo mundo e pelos personagens que encontra no caminho. Josué também começa a descobrir um outro universo. Ela se viu forçada, através daquela pequena criança a consertar o que de mal fizera a tanta gente por tanto tempo que ela se dispôs a vender poucos pertences de valor e partir para a aventura de localizar a família da criança. Na medida em que viajavam e passavam por alguns apuros, um sentimento de amizade foi surgindo entre os dois e juntos aprendiam e ensinavam um ao outro.
As interpretações são as mais variadas, tudo depende da ótica de quem vê. Mas uma coisa é certa: o filme abordava a questão da ética sob muitas perspectivas. Dois pontos em destaque: o momento em que sem um tostão no bolso para matar a fome, ela volta a escrever cartas e depois o menino, pelo exemplo aprendido, joga todo o material no lixo. Neste momento, ela decide enviar todas as cartas, buscando corrigir suas falhas e ao mesmo tempo ciente de que a simplicidade contida numa missiva pode salvar vidas ou mesmo levar esperança a quem já não possui. Outro momento é quando cumprida a missão de levá-lo até sua verdadeira família, ela se despede da mesma maneira como o conheceu: através de uma carta, porém dessa vez, endereçada a ele. Nela, há um ponto muito interessante: relata que ao realizar o sonho do menino - que era de ser caminhoneiro, ela pede que ele jamais esqueça de que foi ela que o colocou sentado pela primeira vez ao volante, na boléia de um caminhão. Distantes e entre lágrimas, os dois choram ao mesmo tempo em que, de sua amizade, ostentam um pequeno retrato juntos, para que sirva de recordação para ambos matarem a saudade, na medida em que o tempo passar.
Curioso como não pude deixar de relacionar com a realidade do professor. Por muito tempo somos úteis à sociedade, pois a maioria das pessoas passa pela escola (não generalizo em razão do grande número de analfabetismo que ainda existe no País, e o filme mesmo que na ficção também mostra essa realidade) e lá aprende não só os conteúdos mínimos, mas também valores como ética, solidariedade e muitas outras coisas que algumas famílias já nos transferiram como responsabilidade. Educação no sentido amplo das palavras. Porém, nem sempre é fácil desempenhar esse papel: não bastasse o paternalismo na educação, defasagem salarial e falta de incentivo ou apoio aos educadores, ainda temos não uma inversão de papéis, mas acúmulo de tarefas: tornamo-nos os grandes vilões da história, e poucos são aqueles que tem a grandeza de exercer a empatia – que considero um dos maiores valores que o ser humano tem, e entender ou valorizar o profissional da Educação.
Enquanto a maioria das pessoas vai para suas casas, depois de uma exaustiva semana de trabalho a fim de descansar, as formiguinhas operárias vão para seus lares com farto material para corrigir, provas para elaborar, médias para fechar e muitas vezes são expostas a situações constrangedoras diante da falta de educação de alguns alunos e de pessoas que cruzam os braços diante da educação e que criticam sem conhecer a realidade dos profissionais que fazem sua parte, projetam o Estado como o primeiro colocado no Exame Nacional do Ensino Médio e em outros trabalhos e projetos que são tantos que o espaço aqui seria insuficiente para citar tudo.
Mas o que tem a ver o filme com essa realidade? A intertextualidade feita entre a atual situação na Educação e com o filme bem poderia fazer com que entendêssemos que muitas vezes somos forçados a trilhar caminhos tortuosos para fazer valer nossos direitos, para poder sobreviver no atual cenário. Penso também na crônica do professor que é sempre o culpado de tudo, mas que se alguém consegue finalizar a leitura dessas linhas, foi porque algum professor capacitou-o para executar essa tarefa, através da alfabetização. Pena que não haja muita reflexão nesse sentido. E tal como Fernanda Montenegro, ao final do filme, deixo também essa mensagem: quando vocês, alunos, tornarem-se cidadãos bem-sucedidos profissionalmente, quer sejam políticos, empresários ou o que a força de vontade, oportunidades e destino assim permitir nas mais diversas áreas de atuação, não se esqueçam de que houve um professor nas suas vidas que lhes ensinou a ler, escrever, pensar, opinar e contribuir para que você chegasse onde hoje está e, sobretudo, conseguindo concluir esta leitura!

Patrícia Daiane Rech de Oliveira – Professora Graduada em Letras – Licenciatura Plena.