quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Exploração da Fé Humana

Hoje, ao acessar a internet e checar minha caixa de entrada de mensagens, deparei-me pela enésima vez com um daqueles e-mails encaminhados e não sabia se deletava ou reenviava aos meus contatos. Na dúvida, lembrei-me de algumas orientações recebidas em cursos e decidi deletá-lo, mas confesso, não antes de fazê-lo com um certo receio e até mesmo dose de culpa. Sim, aquela sensação de ter praticado um delito, uma falta descomunal!
Tratava-se de uma comovente mensagem que falava sobre uma bebezinha que necessitava de cuidados especiais, pois apresentava um quadro clínico considerado irreversível. O reenvio da mensagem representava um compromisso moral de prolongar-lhe a vida. Paralela a essa preocupação, lembrei-me do preocupante número de spams e vírus que são transmitidos através da rede por internautas descuidados no envio de e-mails. A "netiqueta" tem algumas regras, dentre elas usar o recurso Cco (cópia carbono oculta), pois há sempre alguém mal intencionado entre os contatos (a dita 'maçã podre', que contamina todas as outras). por essa razão, dei um "excluir" no e-mail a mim repassado e, não para me justificar, mas para fazê-los refletir, decidi expor publicamente o gesto que poderia passar imune.
Atualmente, o mundo parece confuso (tudo bem, não vamos atribuir os problemas ao cosmos ou ambiente em que vivemos: são as pessoas mesmo que parecem confusas). O que acontece é que, muitas vezes, a maldade humana não tem limites... Isso implica em uma descrença por parte do indivíduo. Basta pensar no número de igrejas que têm surgido ultimamente. Curioso como pensar que, em vez de evoluir, o ser humano regride, numa espécie de retorno aos tempos mais remotos. Explico: o discurso é o mesmo da idade média, mais precisamente ao nos remeter ao estilo de época trovadoresco, quando se pregava a teoria do Teocentrismo (Deus como o centro do Universo). Essa visão religiosa era uma maneira de manipular o pensamento humano, ao ponto de interferir no desenvolvimento humano em busca de sua ascensão, sob a alegação de que um dos desígnios de Deus era dividir a humanidade por classes, ou seja, a sociedade era dividida em uma pirâmide hierárquica, com a nobreza no topo, o clero no meio e o povo (ou servos) abaixo. Desse modo, quem havia nascido "fora da realeza", deveria curvar-se à vontade do onipotente e jamais ter a intenção de prosperar ou almejar enriquecer, pois seria severamente castigado pelas leis divinas. O que estava implícito nessa linha de pensamento era o próprio desejo de manter o controle das classes, monopolizando o ser humano diante dessa ameaça e mantendo-se no poder supremo. Não cabe aqui discutir religião ou filosofia, pois essa é uma característica de época constatada nos livros de literatura portuguesa e melhor explanada na História. O que busco desenvolver aqui é uma análise do comportamento humano diante do fator desconhecido: o medo do medo.
O medo ainda mantêm as pessoas sob controle. É a palavra de ordem. Diante de um comportamento considerado inadequado, fora do controle e dos padrões estabelecidos, há sempre uma ameaça que surte efeito diante do intrínseco temor que nos acomete. A simples iminência de perigo nos cerca de defesas que se traduzem em receio, apreensão em relação ao fator surpresa, que não nos dê chance de defesa e absolvição. Se não recebemos a desejável remissão de nossas culpas e pecados, quer seja pela sociedade, quer seja pela justiça, não escapamos do julgamento superior. Essa é a visão da Humanidade.
Deus é amor e amor não se paga. Podemos, sim, ajudar a nossos irmãos mais necessitados, contanto que nós mesmos não nos equiparemos na mesma situação inópia. Penso muito naqueles que pregam a palavra de Deus e que inflingindo castigos e usando o sagrado nome do Altíssimo, exploram através da crença, do medo e da benevolência dos mais humildes a sua própria subsistência e acumulam riquezas, ostentam palácios e freqüentam os melhores restaurantes e viagens ao exterior em nome do Pai. Tudo o que Ele não queria que acontecesse...que tomassem seu santo nome em vão... que os seres humanos, seus filhos, fizessem uso de seu sacrifício para levar vantagem a seu bel prazer... que os direitos individuais se sobrepusessem sobre os direitos coletivos...e que todos os pavores se alastrassem, desde a simples intenção de acolher alguém em casa, confiar nas pessoas ou até mesmo em repassar ou abrir um simples e-mail.