segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Que vez (que vês?)



Acho sensacional o trocadilho feito pelos músicos do grupo Tihuana acerca da composição de uma de suas melhores músicas: Que vês? (ou Que vez). Nela, são possíveis várias interpretações, dentre as quais prefiro ver o que meus olhos e meu coração dita: a vez de todos e como se vê o semelhante.
Recentemente recebi um email que falava sobre a tese em doutorado de um psicólogo que defendia a questão da invisibilidade social. Em oito anos de pesquisa realizada, o especialista comprovou a teoria da invisibilidade social, e a ela atribuiu duas questões chocantes: a indiferença e preconceito. Ele mesmo sentiu na pele essa constatação, ao decidir se passar por um simples gari, despindo-se de sua real condição social, econômica ou intelectual. E foi às ruas comprovar essa dura realidade. Viu pessoas de seu meio acadêmico e de suas relações por ele passarem e não reconhecê-lo, ignorando-o totalmente. Tudo por causa de suas vestes humildes. Entendeu, ao sentir na carne, o significado máximo de que o hábito não faz o monge. Outro ser iluminado - o famoso líder pacifista indiano, Mahatma Ghandi - já havia comprovado essa teoria, quando afirmava que "Uma civilização é julgada pelo tratamento que dispensa às minorias." Ele mesmo, dotado de forte presença de espírito, fora convidado, certa vez, para uma grande festa (ao que me consta, oferecida por um imperador). A história que li há muito tempo, contava que ao chegar ao evento, Ghandi teria sido barrado pelos seguranças por não estar vestido a rigor. Voltou para casa, pôs sua melhor túnica e ao retornar para a festa, jogava os alimentos que lhe eram oferecidos para dentro das mangas, mas não comia nada. Suscitando a curiosidade dos convidados, um deles questionou-o sobre tal atitude, ao que ele respondeu que pensava que 'ele' tivesse sido convidado para a comemoração, e não sua roupa. Por essa razão, quem deveria se alimentar na festa, não era ele e , sim, suas vestes (razão pela qual jogava tudo para dentro das mangas).
Peço licença para citar outras grandes personalidades e suas frases de efeito para que se possa entender melhor o assunto em questão:“O defeito da igualdade é que só a queremos com os nossos superiores.” (Henry Becque). “O filósofo cínico Diógenes foi visto certa vez mendigando de uma estátua. Aos que lhe perguntavam o que fazia, respondia: “Estou treinando para ser rejeitado por homens tão insensíveis quanto esta estátua.” (Margolin) “O homem nasce com as mãos fechadas, mas agoniza com as mãos abertas, porque, ao entrar no mundo, ele deseja agarrar tudo, mas ao deixá-lo, não leva nada consigo” (O Talmud). “O oposto do amor não é o ódio e sim, a indiferença.” (Érico Veríssimo).“O pior pecado contra nosso semelhante não é o de odiá-los, mas de ser indiferentes para com eles. (Bernard Shaw).“O que muda o mundo são as minorias determinadas, com as maiorias acomodadas.” (Maurice Duverger).
O festival de frases de efeito apresentadas serve como reflexão para nos fazer entender que essa transparência (ou invisibilidade social) são problemas que sempre existiram desde que o mundo é mundo. Os humildes que ousaram ir contra os princípios hipócritas e infundados da sociedade, feriram o ego e a vaidade de muitos poderosos e foram assassinados: Jesus Cristo, Martin Luther King, Mahatma Ghandi, Chico Mendes e outros que quiseram lutar por ideais de igualdade e justiça.
O valor dos seres humanos é e sempre foi medido por sua conta bancária ou posição social. "Cada um no seu quadrado", desprezando os menos favorecidos e ignorando por completo o que a maioria desfavorecida tem a dizer; sepultando talentos antes mesmo de vê-los nascer. Castrando a vez daquilo ou daqueles que vês.