terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Caso Eluana e a eutanásia

Prometi a mim mesma que não me manifestaria a respeito do caso Eluana Englaro que continua a alimentar a polêmica e um conflito institucional na Itália, mas diante de várias opiniões que vêm se formando acerca do conturbado tema "eutanásia", não poderia me eximir em deixar de dar minha opinião.
Nem mesmo a intervenção do Vaticano, do Governo de Sílvio Berlusconi e da população foram capazes de impedir sua morte, após 4 dias sem alimentação.Pode até parecer bárbaro, mas há de se analisar o outro lado da questão. A situação da vítima e do pai que há 10 anos lutava para obter na justiça o direito de permitir um fim ao sofrimento da filha.Eluana tinha um corpo fortemente deteriorado face a 17 anos em coma. O estado de vida vegetativa consiste em uma crueldade muito maior do que o alento em permitir que a italiana descansasse em paz. Empatia é a palavra-chave. É muito fácil, em nossa zona de conforto, assistirmos incrédulos ou chocados a uma decisão que, penso eu, foi muito difícil para os pais.Não há amor maior e incondicional do que o de Deus e de nossos genitores e,acredito, se não houvessem recursos para mantê-la viva, Eluana há muito tempo já teria partido desta para melhor, poupando assim o sofrimento de seus familiares em assistirem - impotentes - ao seu fim, num processo demorado e doloroso. Utopia imaginar que voltaria a ser como a bela moça de outrora dos retratos que os jornais sensacionalistas insistem em exibir. Impossível e expendioso à família manter a filha em condições sub-humanas de sobrevivência. Deveríamos voltar nossa atenção e lastimar o fato de milhares de pessoas que morrem de fome todos os dias no continente africano, quase inteiramente excluídos do processo de globalização e de desenvolvimento econômico.Pessoas que há mais de 4 dias não sabem o que é algum tipo de alimento e que ainda assim sobrevivem.Isso sim deveria ser motivo de discussão e busca por soluções.
Quanto ao caso de Eluana, creio que os pais estivessem lutando para atender a um dos últimos desejos da filha. Duvido muito que ela mesma consentiria em ser mantida viva da maneira como estava. Devia sofrer no silêncio profundo de seu coma. Provavelmente, as mesmas pessoas que hoje criticam, jamais se interessaram em visitá-la ou oferecer ajuda à família, que creio, já não possuia recursos financeiros nem condições psicológicas para mantê-la viva para o contentamento alheio.Talvez a preocupação dos pais, em razão da velhice que se aproxima e que inevitavelmente também cerceia suas condições de prestarem quaisquer atendimento à filha tenha influenciado em sua decisão.A morte não é um privilégio ou castigo, mas sim um processo natural da vida e que chega para todos, das mais diversas maneiras. Para uns mais cedo do que para outros, e não estamos acima do bem ou do mal a ponto de julgarmos as atitudes dos outros. Tudo tem uma razão de ser. Mesmo quando pareça não haver coerência para muitos de nós.