Recebi uma visita de meu velho e querido pai. Estava em meu local de trabalho e, como no período obstinado de nossas vidas em progredirmos profissionalmente, suas visitas, por mais alegres que sejam, são, por vezes motivos de preocupação.Parece ingrato falar sobre isso, mas não me importo com o julgamento alheio. Deixo essa tarefa para Deus: esse sim parece o mais sensato nesse tipo de ação.
Acontece que dispenso hipocrisias e, casualmente, havia um texto exposto no mural do local onde trabalho (e desenvolvo função de chefia) e que falava sobre a atitude dos filhos em relação aos pais. Era um texto que trazia a reflexão em relação a postura dos filhos com os pais, quando aqueles, já crescidos, começam a contestar ou criticar as atitudes dos pais. Nesse texto, havia uma mensagem dolorosa sobre o sentimento dos pais frente às atitudes dos filhos.Algo sobre idealizarmos em suas figuras nossas referências maiores durante a infância. São nossos heróis, nossos espelhos. Na medida em que crescemos e adquirimos nossos próprios conhecimentos, começamos a questionar os princípios e valores de nossos pais. Percebemos que já não são tão detentores de todo conhecimento e, por vezes, suas atitudes geram um certo constrangimento diante das pessoas. Ora, há de se levar em conta que o contexto vivenciado já pertence a outra geração, mas sem desmerecer o conhecimento e experiência de nossos genitores. Porém, o processo de envelhecimento chega para todos e, com ele, alguns desgastes não percebidos pelos idosos. Nosso desconforto não advém do fato de sentirmos vergonha de nossos velhos pais, mas do fato de vê-los expostos ao ridículo diante do olhar alheio. Sim, parece contraditório iniciar um texto dizendo que a opinião dos outros não me afeta e colocar que esse tipo de situação me inibe. Explico: faça o que quiser a mim, eu mesma me defendo dos ataques, mas não faça aos meus! Parta sempre do princípio que se dói em você uma pedra lançada aos seus, em mim o efeito não é diferente. Defendo e protejo os meus com unhas e dentes!O fator maior que me leva a escrever essa crônica está relacionado ao curioso fato de que todos os textos que já me chegaram às mãos fala dos sentimentos dos pais em relação aos filhos, mas nunca o contrário: a visão dos filhos em relação aos pais. Ignorância minha ou falta de informação, decidi dar minha opinião. Minha e só minha. Pode ser que alguém compactue dessa mesma opinião, mas o fato é que me responsabilizo pelo que digo ou escrevo. Falta de tato ou excesso de sinceridade, dêem o nome que quiser, mas essa é a minha opinião. Mas meu desabafo é direcionado para nossos pais... É doloroso aceitar que o processo natural da vida aproxime-os do fim. Missão cumprida. Difícil assimilar que ainda não chegamos nessa fase, e nossa insipiência em relação a essa etapa da vida, nos desprovêm de informações sobre como nos sentiremos quando atingirmos esse mesmo ápice. E, por falta de comunicação explícita e aberta, instaura-se o nefasto sentimento que distancia os filhos dos pais.
Nunca, em momento algum, subestimarei o conhecimento e experiência de quem me trouxe o mundo. Sou uma filha grata aos meus pais por toda educação, carinho e amor que me proporcionaram ao longo de minha vida. Já não tenho mais mãe, mas o pai é ainda minha fortaleza e amparo em momentos difíceis, e é a ele que sempre recorro quando, já adulta, preciso de "colo" ou de um conselho honesto. Mesmo que às vezes discorde de seu pensamento ou conduta. Mas sei que jamais experimentarei em toda a minha existência um sentimento similar ao seu: amor sincero, puro e despretencioso de qualquer intenção, que consiste em renunciar ao seu próprio bem estar para garantir o meu. E não há palavras ou gestos que retribuam tamanha consideração.(Tenho certeza de que só compreenderei a dimensão de seu sentimento quando tiver meus próprios filhos e, então, comprovarei a tese de que "ser mãe é padecer no paraíso"). É como a prova de choque: nossos pais nos alertam para os perigos de tomarmos uma descarga elétrica se colocarmos o dedo no interruptor ou tomada de luz (eles mesmos já provaram essa sensação). Enquanto não comprovarmos o que de fato é o dito choque, não sossegaremos até experimentar a mesma sensação.Só rogo a Deus para que nunca seja tarde demais para poder expressar todo o meu afeto e gratidão por seus sacrifícios.
Mais do que uma reflexão acerca do olhar de uma filha sobre os pais, considero este um desabafo bem particular.O fato é que eles sempre estarão muitos passos a nossa frente.Não há graduação, pós ou mestrado que nos permita entender seus sentimentos. Isso a escola ou faculdade não ensina. E como não poderia deixar passar em branco, aproveito a ocasião para renovar meus sentimentos ao meu pai, meu ídolo e meu herói através deste espaço. Pai, eu te amo! Isso é para todos saberem!